Ah, os veneráveis generais das Forças Armadas brasileiras, heróis da guerrilha burocrática, onde o manuseio da caneta é mais letal que um fuzil e as trincheiras são escavadas em salas de reunião acarpetadas. Não meros soldados, mas sim, águias da administração militar, condecorados não por bravura em combates reais, mas por sua valentia no campo minado das assinaturas e ataques surpresa em cursos de capacitação. Verdade seja dita, eles são virtuoses na arte da camuflagem política, escondendo habilidades ímpares de manobra e formação de lobby sob a farda.
Prometendo fidelidade eterna a Bolsonaro, esses magos da estratégia tinham o plano de batalha bem traçado. A guerra mal tinha começado, e já preparavam uma operação de choque: um projeto de lei para engordar suas contas bancárias com um aumento de 73% sobre seus cursos.
Oh, a doce ironia! O mesmo Bolsonaro, outrora banido dos quartéis, agora, em sua ascensão presidencial, abraçado agora por quem dele antes tinha asco, esqueceu rapidamente os verdadeiros guerreiros que o catapultaram do anonimato ao Congresso: os cabos e sargentos. Estes, os verdadeiros combatentes na linha de frente da democracia, o povo fardado, foram deixados para trás, ficaram quase todos de fora dos benefícios das nova lei, aprovada a toque de caixa sob a condução dos estrelados.
Recordemos com lágrimas do soluço do general Heleno, que, sufocado por um “mísero” soldo de 19 mil reais, via-se incapacitado de apresentar a seu rebento as delícias de um restaurante de alto calibre. Ah, a agonia! Como deve pesar o galardão das estrelas em seu peito. Fica o enigma se tal incremento salarial poderia, de fato, aliviar essa carga.
Todavia, como astutos estrategistas que são, os generais sabiam o momento exato para desviar de flanco. Ao término da era Bolsonaro, quando o então comandante-em-chefe esperava que seus leais escudeiros o blindassem em sua trincheira no Planalto, ou ao menos ratificassem suas suspeitas sobre as urnas eletrônicas – enquanto permitiam que multidões montassem acampamento nas entradas dos quartéis –, esses veneráveis generais demonstraram sua habilidade suprema: num piscar de olhos, mudaram para o lado do novo presidente, Lula. Afinal, quem poderia resistir ao chamado das mansões na nobre quadra dos generais, regiamente custeadas pelo erário, e às sedutoras cadeiras em estatais após a honrosa passagem para a reserva, territórios infinitamente mais atraentes do que as humildes barbearias, motociatas e praias freqüentadas pelo ex-capitão?
Sob o comando de Lula, os guerreiros da estratégia já embarcam em novas cruzadas. Uma das missões mais importantes: evitar a proliferação de novos Bolsonaros no horizonte político. Apoiam, com fervor e garras afiadas, o projeto do “comunista” Jaques Wagner, uma mina terrestre desenhada para estourar sob os pés de militares audaciosos que ousarem avançar na selva da política partidária e ousarem concorrer em uma eleição. Uma manobra de guerra, engenhosa, que, se bem-sucedida, deixará praticamente todos, exceto os próprios generais, é claro – já condecorados com seus 35 anos de serviço – fora de combate e atirados fora da caserna, caso tentem uma incursão pelo terreno minado da vida pública.
Uma estratégia digna de Sun Tzu, onde a maior vitória é aquela conquistada sem disparar um único tiro.
Ah, generais brasileiros, com suas táticas refinadas, dignas de uma partida de xadrez em 5D, na qual são os indiscutíveis grandmasters, manobrando os peões com uma destreza que faz parecer que os sacrifica sem nem um pingo de hesitação na busca incessante pelo xeque-mate.
No grande tabuleiro da política brasileira, são eles os verdadeiros estrategistas, sempre prontos para o próximo movimento, com olhos ávidos pelo próximo festim. Curiosamente, nesses banquetes, distribuirão, sem surpresa alguma, condecorações a mais um pelotão de parlamentares, não por atos de bravura ou benefício ao país, mas geralmente pela promessa do que ainda poderão realizar.
Que se atente o parlamentar que percebeu nos ajustes de 2019 uma troca por apoio, deixando sargentos e subtenentes assistindo à celebração de longe. Esse não deve ser condecorado nunca, jamais sentira o peso de uma medalha dourada em seu peito, jamais recebera um título de nobreza como Comendador ou Grande Oficial.
No xadrez dos generais-políticos do Brasil, cada movimento é meticulosamente calculado, e a vitória não é medida por territórios conquistados, mas por privilégios garantidos. Bravo, generais! Suas campanhas certamente serão estudadas por futuras gerações, não em academias militares, mas em escolas de ciência política e administração pública.
Golias o sarcástico – Golf Papa Tango