Vem aí o arrocho disciplinar.
Eu não desejo um regulamento disciplinar apertado para ninguém.
Isso é só um exercício de previsão do futuro.
Todo mundo tem em casa uma panela com o cabo frouxo.
As porcas de parafusos afrouxam com o tempo, mas em especial as dos cabos de panelas pois a forte variação de temperatura que sofrem aceleram o processo.
Por isso que, de tempos em tempos, elas precisam de um arrocho.
O arrocho é no sentido de ajustar aquilo que está frouxo.
E em uma sociedade em plena evolução as leis precisam de constantes ajustes para que o cabo não caia da panela.
Não há como manter a ordem em uma sociedade com leis desajustadas. E os regulamentos disciplinares das FFAA atualmente não contemplam as mudanças sociais dos últimos anos.
Se o cabo cai da panela a porca rola para longe e talvez nunca seja encontrada.
O arrocho deve ser feito antes que caia.
Os regulamentos disciplinares são de uma época em que o termo “rede social” não existia e hoje em dia a tropa toda está dentro da rede.
Vem aí o arrocho disciplinar.
E o meu exercício de previsão do futuro indica a inclusão de uma sentença:
“Todo militar é responsável pelas consequências daquilo que publica ou compartilha em redes sociais.”
A sentença não fere o direito de livre expressão, mas aumenta a margem de manobra da autoridade para garantir a ordem e disciplina.
Se um militar elabora um texto dizendo que o youtuber fulano de tal é um idiota por influenciar jovens na internet, o texto pode viralizar, mas essa bola de neve provavelmente não dará em lugar algum.
Mas ao dizer que o presidente da Venezuela é um idiota, a bola de neve pode crescer e atingir algo importante.
Não é fácil enxergar a linha que separa uma livre expressão de pensamento de uma exposição de pensamento que pode ser prejudicial a uma força armada.
Então quem deseja se expressar, deve aprender a enxergar as linhas primeiro.
O arrocho pode não ser confortável para a panela, mas é para a segurança da comida e do cozinheiro.
Além de uma tentativa de previsão do futuro eu também tenho uma solicitação.
A inclusão de um capítulo: Orientações a respeito de abuso de autoridade.
Um regulamento disciplinar não pode apenas regular o comportamento disciplinar que ocorre de baixo para cima na estrutura hierárquica. Ele deve também orientar a execução do processo que ocorre de cima para baixo.
O abuso de autoridade não tem origem apenas no mal caráter. O abuso de autoridade muitas vezes ocorre por falta de conhecimento e experiência da autoridade.
Jovens criados em bolhas tendem a pensar que são únicos e especiais e quando recebem a autoridade acabam se comportando de maneira abusiva. E uma orientação nesse sentido cairia bem em um regulamento disciplinar, pois no final de cada regulamento está oculto o velho pensamento chinês: “Escreveu, não leu, o pau comeu”.
Vale tanto para o inexperiente quanto para o mal caráter.
Vinícius Feliciano Machado é ex-militar do Exército. Historiador e MBA em investimentos/aplicações, atualmente reside nos Estados Unidos da América