A edição de julho de 2024 da Revista de Doutrina Militar do Exército Brasileiro levanta um questionamento perturbador: o Brasil possui de fato uma doutrina militar própria? Uma análise cuidadosa da edição, publicada em 15 de julho de 2024, revela uma predominância avassaladora de temas relacionados ao Exército dos Estados Unidos, evidenciando uma influência alarmante da doutrina norte-americana sobre a brasileira.
Esse fenômeno não é apenas curioso, mas tem sérias implicações para a segurança nacional. A revista deveria, em teoria, focar nas necessidades e especificidades das Forças Armadas do Brasil e contribuir para a criação ou evolução de um pensamento militar genuinamente brasileiro. Em vez disso, parece que estamos nos tornando cada vez mais dependentes de estratégias externas que podem não servir aos nossos interesses.
Não se trata de um fenômeno recente
Um artigo publicado na Revista Sociedade Militar em 9 de novembro de 2023, intitulado “O Significado e Impacto da Fala de Comandante R1 da Marinha: Exército Baionetas para Dentro“, com base em uma fala de Robinson Farinazzo, militar da reserva remunerada da Marinha do Brasil, especialista em geopolítica e Forças Armadas, discutiu a influência estrangeira sobre a doutrina militar brasileira. O artigo destaca que essa influência não é um fenômeno recente, e que discursos e estratégias importados frequentemente se sobrepõem às realidades e necessidades locais.
A crítica é particularmente relevante quando observamos a tendência de replicar modelos e conceitos que, embora eficazes em outros contextos, podem não se adequar às especificidades brasileiras. Especialistas veem a dependência de modelos estrangeiros, especialmente dos EUA, como uma forma de neocolonialismo, onde a soberania e a identidade nacional são subjugadas por uma potência estrangeira que, em um futuro não tão distante, pode não ser mais um aliado confiável do Brasil.
A preocupação dos nacionalistas
A preocupação com essa dependência se intensifica entre nacionalistas que temem que os militares brasileiros estejam compartilhando informações vitais com aliados de outros países. Em um contexto geopolítico volátil, esses aliados podem se tornar inimigos, colocando em risco a segurança e a soberania nacional. A antiga dissuasão em torno das dificuldades de estrangeiros operarem em nossa floresta amazônica está desaparecendo à medida que atraímos grupos de militares para treinamentos em nossa “impenetrável” selva, onde, no passado, nossos soldados eram considerados imbatíveis.
O número impressionante de 7,9 milhões de visualizações em uma postagem no perfil do “X” (antigo Twitter) da Revista Sociedade Militar, que criticava adestramentos ministrados por brasileiros para soldados dos EUA na Amazônia, é um sinal claro de que os brasileiros estão profundamente incomodados com a intromissão de estrangeiros em questões militares que deveriam ser exclusivamente da alçada das instituições nacionais.
Os militares dos Exército brasileiro estão se esforçando muito para ensinar aos soldados norte americanos como operar em nossa região. 🫤 >>> ” Belém (PA) – Cerca de 150 militares norte-americanos tiveram o primeiro contato com as peculiaridades dos rios da Amazônia durante a… pic.twitter.com/W0gmoqMW6O
— Revista Sociedade Militar (@SocMilitar) November 10, 2023
A ausência de uma doutrina própria é um risco não apenas para a identidade das Forças Armadas, mas também para sua eficácia em contextos únicos ao Brasil. A vasta Amazônia, como mencionado, e os complexos centros urbanos são exemplos de áreas onde uma doutrina local seria mais vantajosa.