Extinguimos a escravidão sobre a raça negra, mantemos, porém a escravidão da raça branca entre os servidores da Pátria.
Rui Barbosa
Em 2018, abobalhada com a candidatura à presidência de um militar “amante de ditaduras e de torturadores”, a esquerda brasileira saudosista de golpes e guerrilhas, anteviu seu império de corrupção e corruptores profissionais ser ameaçado por um capitão sedicioso aprendiz de terrorista*. Obviamente um golpe se avizinhava. Não uma quartelada, com todos os seus sangrentos e românticos desdobramentos, mas um golpe branco – diga-se de passagem, bem ao estilo silente e insidioso do marxismo cultural que levara Lula e sua gangue ao Palácio do Planalto.
Dois anos depois, o governo Bolsonaro, contrariando os delírios canhotos mais radicais, não se mostrou cria de nenhum golpe ideológico. A não ser que se esteja falando do bolso dos generais… aí, sim, estaremos diante de um “coup d’État” que merece atenção. Um verdadeiro golpe de dragonas.
Bem longe dos parâmetros direitistas apregoados por sujeitos como Olavo de Carvalho, os guarda-costas de luxo do “Mito” parecem ter feito dele a cabeça de ponte ideal para, bem a moda militar, atacarem os cofres públicos e aumentarem os próprios salários.
Pilotos de uma reforma previdenciária cinicamente apelidada de “proteção social” dos militares, os generais melancias de Bolsonaro, fizeram o que nem o mais torpe comunista conseguiu fazer desde a redemocratização. Uma reforma, hipocritamente chamada de autossustentável, revelou-se um “holodomor” autofágico, na medida em que efetivamente tirou dos militares subalternos (sargentos, cabos e soldados) para aumentar o salário da cúpula até que em 2023 os magoadinhos e invejosos generais consigam atingir o teto do funcionalismo. Autointitulados representantes da tropa, os generais, que nunca foram tropa de verdade, mas sabem bem usar o posto para angariar voto de direitistas desinformados, terão um aumento líquido de R$10mil, enquanto um sargento ganhará um bônus de R$200 (duzentos reais) parcelado em quatro anos (sargentos podem ser controladores tráfego aéreo pesadíssimo em algumas regiões). Já os cabos e soldados, estes serão protegidos socialmente de gastar até o que não têm: terão zero por cento de aumento.
Os generais merecem? Pode ser. Mas não precisam! Nada menos que catorze garbosos representantes da elite militar brasileira, entre coronéis e generais, custam mensalmente ao contribuinte a pequena fortuna R$ 240mil por mês, somando R$ 3.1milhões anualmente. Isso só nos Correios!**
Portanto, que não se preocupem os conservadores nem se revoltem os progressistas, porque o golpe em curso não tem estofo nobre de vieses ideológicos ou coisa que o valha. O golpe das dragonas é bem menos romanesco, e não ostenta nenhum objetivo glorioso de reformas societárias. Nada disso, é o mais do mesmo. É apenas um bando de velhos enfastiados, oportunistas e gananciosos que, escudados por um politiqueiro fraco (o qual tolamente acha estar protegido por esses mesmos sequazes fardados!), viram uma chance em mil de fazerem a vida, encherem a burra. A burrice foi fazerem isso às custas da própria tropa, que indignada com a traição do capitão Bolsonaro começa a fazer barulho, agora nas redes sociais e na imprensa, brevemente de 20 a 22 de outubro em Brasília, no palco da traição.
Já o nosso anti-Messias parido pela caserna mostra sua verdadeira face de Judas. Ingrato e anestesiado por interesses pessoais, ignora os apelos de sua antiga base eleitoral e pisa as mesmas pegadas dos políticos profissionais que ele achincalhava, rasgando promessas de vinte e oito anos de campanha e provando ser só mais uma raposa num país de galinhas.
Parece que um cabo de guerra se avizinha. Há que se aguardar até que ponto a corda poderá ser esticada. Espera-se que a teimosia e a incapacidade do (des)governo Bolsonaro em cumprir acordos não ressuscite um novo 1963***.
SO RR FAB (sem altos estudos) Reis
*https://veja.abril.com.br/blog/reveja/o-artigo-em-veja-e-a-prisao-de-bolsonaro-nos-anos-1980/
**https://valor.globo.com/impresso/noticia/2020/08/26/alta-gestao-dos-correios-tem-14-militares.ghtml