… Existem entre eles agora dois blocos, os que defendem Jair Bolsonaro como o Mito redentor do direitismo, e outros – aparentemente minoritários – que repudiam fortemente o capitão
Antes de Bolsonaro se tornar Presidente, havia no Brasil dois polos políticos opostos, a esquerda e a centro-esquerda. A direita nunca se reergueu realmente depois do fim do regime militar. A cisão provocada a partir de 2019 entre as visões de mundo dos brasileiros também atingiu os militares. Existem entre eles agora dois blocos, os que defendem Jair Bolsonaro como o Mito redentor do direitismo, e outros – aparentemente minoritários – que repudiam fortemente o capitão. Enquanto aqueles têm até uma Associação para fazer bolinho de aniversário para o Presidente, aos últimos só restou o Whatsapp para chorarem suas mágoas…
O golpe militar de 1964 teve como justificativa – para muitos fantasiosa – deter o avanço comunista no Brasil. Ignorantes e desastrados, os militares combateram guerrilheiros no Araguaia enquanto abriam as pernas das universidades e da burocracia pública para a intelligentsia do Partidão. Por muitos anos ainda o País vai ter de drenar esse veneno vermelho. Só não admite isso quem está imerso no esquerdismo. As palavras “conservador”, “direita”, “pátria”, “família”, “Deus” tornaram-se anátemas culturais. Quem se mostrasse inclinado a este lado da balança era imediatamente ridicularizado ou tachado de “reacionário”, “fascista”, etc. Os militares se recolheram aos quartéis com a certeza do dever cumprido (isto é, conseguiram entregar a máquina pública aos socialistas – alguns preferem “social-democratas”, que soa mais limpinho…) e desapareceram no mofo da história. Bolsonaro, que ostentou durante quase trinta anos um discurso que se contrapunha ao politicamente correto e à cantilena assistencialista, malandramente pegou carona na fissura deixada pela esquerda comuno-larápia e tornou-se o catalisador de uma nova direita nacional que já era dada como morta e enterrada.
Mas militar não é sinônimo de conservador. Há militares revolucionários que não admitem isso, e parecem não gostar de ser chamados assim – (talvez temendo enquadramentos legais, chamam-se a si mesmos de “esquerdistas”; um eufemismo, claro…). Parecem velhas carolas flagradas cometendo algum pecado. Nunca saberemos se esses revolucionários votaram contra Bolsonaro em 2018.
O fato é que, depois da Lei 13.954/19, (a desestruturação das FA), eles passaram a se manifestar como cães raivosos, nas redes sociais e nos grupos de mensagens, não apenas contra o governo, que inegavelmente os prejudicou, mas invariavelmente, e de maneira sutil, a favor de uma ruptura revolucionária. Tem-se a impressão de que a traição do Governo funcionou como válvula de escape para inconfessáveis desejos reprimidos… Entremeados por impropérios constantes ao “Bozo”, termo cunhado pelos “esquerdopatas”, a tropa de choque antibolsonarista segue o mesmo modus operandi daqueles a quem ataca. Sob um mal disfarçado “ódio do bem”, alguns defendem práticas bastante antirrepublicanas, como inquéritos inconstitucionais, banimento de redes sociais, desde que sejam aplicadas exclusivamente contra os seus desafetos, os bolsonaristas, que segundo eles seriam o “gado”.
Do outro lado desta corda esticada, mas bem curtinha, estão os bolsonaristas. O “exército” do Mito, que mesmo tendo sido usado como massa de manobra para levar Bolsonaro à Presidência (como todos os militares), regozijam-se em proteger incansavelmente o “nosso Presidente”. Fanatizados, resistem às investidas de antigos amigos da caserna, que demonstram por A mais B que foram tapeados pelo Governo, que estão sendo sangrados mês a mês pela nova previdência, que foram traídos pelos Comandantes para que estes tivessem um aumento salarial destacado da tropa. Mas nada os acorda da hipnose, ninguém consegue desfazer o feitiço que Bolsonaro lhes lançou. Contra argumentos matemáticos? “Bolsonaro vai nos salvar do comunismo”. Contra as trapalhadas semanais do Governo? “Confio no Bolsonaro!”. Contra as promessas de campanha, que estão indo, uma a uma para o ralo? “Deixa o Mito trabalhar!”.
Mas nem tudo são trevas. Em todos os grupos há também os que ainda gozam das faculdades mentais em ordem. Estes são o sal dessa terra devastada das ideologias alienantes. São os que pugnam pela isenção ideológica e pela pureza das virtudes militares da sensatez e da lealdade. Apesar da situação delicada em que o Governo os colocou, não usam isso como justificativa para ensejar favoritismos a políticos comprovadamente desonestos. Perseguem a justiça antes de qualquer ideologia. Respeitando direitos alheios, não se apressam a dividir o mundo em bolsonarista e antibolsonarista. Conseguem, nessa terra de cegos pelo ódio de conveniência, enxergar o que é certo ou errado, sem precisarem tomar partido. Não vivem num mundo preto e branco. São os poucos que sobreviveram sem sequelas à vida militar e prosseguem elevando o nível da classe, apesar da maioria se render tão facilmente aos discursos vazios e aos mitos simplórios e enganosos da decadente política brasileira.
JB Reis – Publicado no PORTAL MILITAR