“O militar está sendo substituído pelo militante. O que mantinha o primeiro no campo de batalha era o patriotismo, o que mantém o segundo é o fanatismo.”
Fanatismo
A Humilhante arte de defender o indefensável
“E, afinal de contas, o que é uma mentira? É apenas a verdade mascarada.”
Lord Byron
O corolário máximo de Clausewits “a guerra é a continuação da política por outros meios” é cada vez mais posto em xeque a cada década, a cada ano. Com a irrevogável submissão das Armas às exigências da economia transnacional, o soldado convencional vai perdendo terreno para o combatente ideológico. Estamos vivendo o tempo em que a política é a guerra por outros meios.
O militar está sendo substituído pelo militante. O que mantinha o primeiro no campo de batalha era o patriotismo, o que mantém o segundo é o fanatismo. O fanatismo é a unidade fundamental dos movimentos culturais espúrios, das agitações políticas torpes, daquela bizarra capacidade de distorcer a realidade em nome de uma mentira. No cenário político brasileiro atual, o fanatismo bolsonarista é a única perna bamba que sustenta a imagem cada vez mais autoritária de um mito político.
Uma das armas mais eficazes dos autoritarismos é a constante reinvenção do passado. A União Soviética stalinista usava ao extremo este recurso. A prova de que a coisa funciona é que há um movimento neostalinista nascente na atual Rússia – encorajado por Vladmir Putin — para reabilitar a figura macabra de Jozéf Stalin, que foi o maior psicopata da história contemporânea. Aqui na Tropicália há octogenários saudosos do getulismo, ditador inconteste. Há uns, menos vetustos, que suspiram quando ouvem nomes como Golberi, Médici ou Geisel. “Quem domina o passado, domina o presente”. Che Guevara, racista e homofóbico, é o patrono ideológico de muitos movimentos “culturais” de esquerda, encabeçados por negros e gays! Felizmente não há lados nessa memorabilia caolha.
Fenômeno semelhante, que só se explica pelo fanatismo, é a construção do mais grotesco mito político atual, Jair Bolsonaro. Antes que o leitor se apresse a nos classificar como jacobinos ou girondinos, é bom saber que atiramos para todos os lados democraticamente, mas a bola da vez sem dúvida está na Presidência do bananal… Não carece listar o rol de promessas não cumpridas pelo atual Presidente. Não haveria espaço. Mas uma delas, que vem em apoio ao nosso argumento inicial, só se explica pelo fanatismo. Bolsonaro, que (todos sabem) é cria do “centrão”, em 2018 aparentemente cuspiu no prato em que comeu por quase trinta anos.
O passado foi “apagado” por uma virulenta campanha em que ele não seria “centronês” e que não faria jamais acordos para governar, etc. Tendo chegado a uma encruzilhada em sua administração, cumpriu sua agenda oculta, e em março do ano passado — segundo o jornal El País — “cedeu ao menos quatro cargos de segundo e terceiro escalões, que, juntos, gerenciam cerca de 73 bilhões de reais da União — o equivalente a 2% do Orçamento federal. Todos foram ocupados por afilhados de políticos do Nordeste, região que é majoritariamente administrada por governadores opositores a Bolsonaro e onde ele teve menos votos na eleição de 2018”. O que é isso? Exatamente a velha política de sempre, o tradicional “toma-lá-dá-cá”. Aqui ele fez um upgrade notável na arte da tapeação “recorta e cola”. Não negou o passado. Não disse que mentiu. Simplesmente acrescentou uma verdade implícita (que sempre esteve ao lado da mentira), isto é, que ele sempre foi do “centrão”. Eis aí como uma meia mentira se torna meia verdade!
O primeiro passo para o autoritarismo, e em seguida para uma ditadura consentida, é a descarada aversão pela verdade. A primeira vítima de regimes ditatoriais é a verdade. Mentir é o mantra governamental que se torna uníssono entre os apoiadores apaixonados. O caso particular do bolsonarizmo é simplesmente isso. Trata-se tão somente de uma seita de ingênuos, carentes e de boa fé, que foram tapeados por um mitomaníaco profissional, e que não têm a coragem de se declararem como enganados. Falta-lhes tônus moral para admitir que foram iludidos por um ídolo cuja única substância é a mentira. Qualquer pessoa de posse das faculdades mentais consegue entender esse jogo, mas não os bolsonaristas autoenganados. Cada vez mais essas pobres criaturas se veem mais e mais enredadas em acrobacias mentais para tentar distorcer a realidade e acomodá-la ao que a divindade bronca de seu infeliz culto político emana a cada sete dias em seu cercadinho… Rebaixam-se a replicadores de insultos à mais módica inteligência. Um efeito dessa esquizofrenia ideológica a médio prazo pode ser o embrutecimento do indivíduo, um passo além nessa escola do fanatismo, e, aí sim, algo de sinistro estaria em incubação… Esperamos não ser este mais um compromisso na agenda oculta do Mito: a formação de uma megamilícia de fanáticos.
JB Reis – https://linktr.ee/veteranistao / Portal Militar