Quase 10 mil GENERAIS nas tetas do governo, 130 cargos, brigas políticas com ideólogos e disputa pelo “bolo” com graduados são algumas das principais causas da perda de status dos “estrelas”
(Republicado com autorização da Revista Sociedade Militar)
Nem mesmo no período em que os militares governaram o país soube-se de tantos oficiais generais mencionados em notícias publicadas pela grande mídia. Ver generais exonerados, generais acusados de traição, generais da “ala militar” discutindo com ativistas da “ala olavista”, generais nomeados e generais se digladiando pela mídia ou redes sociais com jornalistas e até com familiares do presidente da república se tornaram algo tão comum que depois de algum tempo já nem chama mais a atenção.
Essa semana vieram a público acusações graves, sobre os tais penduricalhos. Penduricalhos seriam vantagens incorporadas aos soldos de forma estratégica para que a sociedade não perceba que houve um ganho salarial para algumas categorias. De fato, graduados da reserva das Forças Armadas apontam discrepâncias importantes na última reestruturação onde, segundo contam, pensionistas e militares de baixas graduações acabaram saindo perdendo muito.
Perda de status
Ninguém pode negar que há certa perda de status e respeito diante da imprensa e sociedade. Nas redes sociais se percebe muitas ofensas dirigidas contra generais e palavras como “covardes”, “melancias”, “general de merda” e “traidores” abundam nos perfis de “estrelados” conhecidos.
O principal conselheiro do presidente da república – Olavo de Carvalho – disse em suas redes sociais que os generais brasileiros vestem calcinhas. Ainda assim o presidente não hesitou, logo no inicio do governo, em celebrar com o filósofo sua vitória, agraciando-lhe com a participação em uma reunião realizada nos EUA, considerada de enorme simbolismo político-ideológico. A coisa deixou o general Santos Cruz, na época membro do governo, admirado e muito mencionado por bolsonaristas de todos os vieses, de intervencionistas a conservadores mais moderados.
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Olavo foi condecorado ainda com uma medalha muito prestigiada. Mas, algum tempo depois disse que a condecoração não valia nada, mandando que o presidente desse um destino aqui impronunciável para a mesma. Partidos de esquerda tentam emplacar um decreto legislativo para cassar a condecoração.
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Veja:Decreto Legislativo pode cassar medalha concedida para Olavo de Carvalho – Proposta do Partido Comunista
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Tamanha presença na grande mídia tem causado até certa histeria no sentido de se achar que qualquer movimentação comum de militares pode ser prenúncio do que chama-se de intervenção militar. Há alguns meses uma declaração do general Pujol sobre a atuação do exército no combate ao coronavírus deixou intervencionistas exaltados e esquerdistas desesperados. Uma exoneração de oficiais generais causou histeria semelhante e qualquer palavra considerada um pouco mais dura é interpretada como sinal de ameaça feita pelas Forças Armadas contra a democracia.
Jamais se havia visto generais em discussões acaloradas com sargentos em uma luta pra decidir quem ficaria com a melhor fatia do bolo. Um general chegou a gritar que se a reclamação continuasse então ia cortar (o aumento) pra todo mundo.
Brigas de generais com graduados – perda de status
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Jamais se havia visto generais em discussões acaloradas com sargentos em uma luta pra decidir quem ficaria com a melhor fatia do bolo. Um general chegou a gritar que se a reclamação continuasse então ia cortar (o aumento) pra todo mundo.
Os próprios parlamentares, diante de ombros com estrelas e peitos cheios de barretas, se mostram impressionados, com aquilo que juristas chamam de temor reverencial. A coisa ganhou ares de tragicomédia por fatos como as declarações do deputado Vinícius de carvalho, que em um dia, sorridente e orgulhoso, com toda pompa, disse que havia sido escolhido pelos próprios generais para chefiar uma comissão (as três forças me escolheram, disse) e no dia seguinte, confrontado com a possibilidade de ter ocorrido interferência ente os poderes, preocupado, como se fosse uma criança, desmentiu a si mesmo declarando que não foi nada disso, que quem o havia escolhido fora outro parlamentar.
O caso no congresso acabou indo parar na esfera disciplinar. Por estar discutindo com generais no congresso e nas redes sociais – e comentando sobre isso – sabe-se de vários graduados enquadrados em itens dos regulamentos disciplinares por se referir aos oficiais de “forma desrespeitosa”.
Um exército de generais
Dados fornecidos pelas próprias Forças Armadas mostram que o número de oficiais generais na ativa e reserva hoje chega a quase 10 mil, sem contar as pensionistas, filhas e netas de generais. Anualmente só o gasto com os estrelados ultrapassa em muito a cifra de 3 bilhões de reais anuais.
REF/AGO2019 | MARINHA | EXÉRCITO | AERONÁUTICA | |||
ATIVA | RESERVA | ATIVA | RESERVA | ATIVA | RESERVA | |
115 | 2437 | 173 | 5122 | 104 | 1937 | |
SUBTOTAL | 2552 | 5295 | 2041 | |||
TOTAL DE OFICIAIS GENERAIS NO BRASIL —– 9.888 OFICIAIS |
CLIQUE E VEJA AQUI A TABELA DISPONIBILIZADA PELA DEFESA ou AQUI
Ao contrário do que muitos podem acreditar, os governos de esquerda não prejudicaram as forças armadas no que diz respeito aos quantitativo de oficiais generais, suas perspectivas de progressão na carreira na verdade aumentaram bastante se comparado com o que ocorreu em governos anteriores. Dados mostram que o número de membros dessa categoria cresceu significativamente. Em 2006, no início do governo Lula, o número de oficiais generais na ativa era 282. Apenas 10 anos depois, durante o governo Dilma, em 2016, esse número já chegava a 326 um acréscimo de 14% enquanto as forças armadas cresceram menos que 1% (de 358.658 para 361.000 militares).
Em 2019 o número de oficiais generais na ativa já chegava a 392.
Veja o documento fornecido pelo Ministério da Defesa
As regalias
Ainda que a coisa seja tratada como uma espécie de tabu, militares evitam falar sobre o assunto, sabe-se que as regalias são muitas. Além das residências funcionais, com limpeza externa e segurança a cargo das próprias forças armadas, uma parcela significativa dos oficiais generais custa ainda a se desarraigar de regalias que remontam à época do império.
É o caso dos taifeiros, militares que executam serviços domésticos nas residências dos generais e dos motoristas, que muitas vezes servem como chofer particular das famílias dos oficiais, levando donas de casa às compras, crianças à escola e realizando pequenos mandados, como pagamento de contas, compra de ração para animais etc.
Questionado sobre o número de pessoas alocadas para servir aos oficiais generais o Ministério da Defesa alega que não é possível fornecer a informação. “… informações que possibilitem o conhecimento da rotina de autoridades, seus familiares e seu eventual staff não podem ser prestadas devido à possibilidade de comprometimento da segurança orgânica desse pessoal.”
Informações constrangedoras
Há poucos meses a Revista Sociedade Militar recebeu denúncias sobre a situação de graduados que eram submetidos a situações complicadas, como ter que arrumar mochilas de filhos de generais e até ser obrigados a levar animais para fazer suas necessidades fisiológicas do lado de fora das residências. Várias determinações do Ministério da Defesa advertem quanto ao abuso no uso das regalias que possuem, a última foi uma proibição clara do uso de militares em tarefas domésticas. Todavia, ao que parece a ordem tem sido cumprida com certa lentidão, recebemos denúncias, com fotografias, bem depois da determinação.
A defesa explicou, por meio do serviço de informações ao cidadão, que militares só atuam na área externa. Mas, ao que parece, segundo as denúncias recebidas, vez por outra eles são “chamados para dentro”.
Outra nota da defesa diz que as residências de oficiais generais eventualmente são usadas como locais de representação e que por isso são servidas por militares.
“… as residências oficiais ocupadas por Oficiais Generais também possuem caráter de representação… em função dessa pertinência, há necessidade de relacionamento institucional com autoridades… Em face dessas particularidades, são deslocados militares eventualmente, em conformidade com as necessidades de cada ocasião.”
Uma juíza solicitou informações detalhadas sobre a atuação dos taifeiros em residência de generais. A DEFESA respondeu e pediu que a informação fosse mantida em SEGREDO. Seria algo constrangedor?
Abaixo extrato do documento RESERVADO.
“… Inicialmente, cabe esclarecer que os militares designados para esse fim atuam no resguardo da segurança orgânica, na manutenção e conservação das residências e dos bens patrimoniais pertencentes ao erário e na proteção e salvaguarda das instalações, materiais, equipamentos e informações, bem como em atividade de taifa, como arrumadores, cozinheiros e despenseiros. Portanto, o serviço realizado, face à sua peculiaridade, caracteriza-se como de natureza militar e impessoal, pois visa ao atendimento de autoridades ocupantes de cargos específicos para tais formalidades…. Por fim, solicita-se que seja preservado o caráter reservado das informações prestadas por este Ministério, nos termos art. 22 do Decreto n 4.553, de 27 de dezembro de 2002.”
Veja o documento completo AQUI
Cabide de emprego
Até março desse ano o governo Bolsonaro já tinha distribuído cerca de 130 cargos de confiança para militares das Forças Armadas só nas proximidades da cúpula, a esmagadora maioria são oficiais generais e superiores.
Muitos oficiais generais criticam a aproximação com o governo – considerada exagerada e alguns ha anos advertiam que esse proximidade poderia ser prejudicial para as Forças Armadas.
Periodistas bem informados contam que os militares do alto escalão estão com os nervos à flor da pele. Além de ter que cuidar dos problemas das próprias forças armadas eles têm agora que tentar de alguma forma domar a boca do presidente da república, que a cada nova declaração deslancha uma crise, perde milhares de apoiadores e gera uma enxurradas de pedidos de intervenção militar, xingamentos contra os militares etc.
Oficiais da cúpula alegam que o Exército deve “fortalecer sua imagem como instituição de Estado, coesa e integrada à sociedade”. Mas, como fazer se o palácio do Planalto aos poucos muda sua cor para verde oliva, alistando a cada dia novos oficiais no pelotão que na verdade luta para manter o status do governo?
De fato o palácio está ficando verde, há realmente muitos oficiais no palácio do Planalto e nas “imediações” do poder. O número de militares contratados supera o que possuía o governo Castelo Branco, o primeiro dos generais presidentes e a desenvoltura com que oficiais transitam no congresso chega a surpreender.
“É como se já fossem meros políticos, isso é muito perigoso na medida em que alguns até já barganham com políticos e como políticos. Praticam o tal toma-lá-dá-cá que o presidente sempre disse que odiava”, diz um militar do “baixo clero” das forças armadas que participou de discussões sobre o projeto da reestruturação das carreiras;
“se esse governo fracassar, ou for pego em um escândalo qualquer, o nome das forças armadas vai junto para a vala”, diz um oficial.
Há generais também ocupando cargos dentro do congresso nacional. Além de vários assessores parlamentares há dois oficiais generais que são deputados federais. Os dois participaram ativamente da discussão recente na câmara, quando foi reestruturado o salário dos militares das Forças Armadas. Os oficiais, general Girão e General Peternelli, não abrem mão de se apresentar como generais, afrontando em tese o Estatuto dos Militares, que deixa bem claro que militares NÃO PODEM usar designações hierárquicas quando exercendo atividades na administração publica.
O legislador bem sabia que o uso de patentes/designações hierárquicas para influenciar na resolução de questões técnico-administrativas-políticas nunca acaba bem..
Não há informações de que o MINISTÉRIO DA DEFESA tenha se manifestado quanto a isso.
Estatuto dos Militares “… observância dos seguintes preceitos de ética militar: – abster-se, na inatividade, do uso das designações hierárquicas… no exercício de cargo ou função de natureza civil, mesmo que seja da Administração Pública; … em atividades político-partidárias… “
Texto da Revista Sociedade Militar
*Robson Augusto é jornalista, cientista social e militar da reserva. escreve para a Revista Sociedade Militar //
Republicado com autorização no PORTAL MILITAR – O MAIOR SITE DE INFORMAÇÕES SOBRE MILITARES DAS FORÇAS ARMADAS, POLICIAIS E COMBEIROS