Direita esquerda, direita esquerda
Para onde vão os militares?
Uma das bandeiras de Bolsonaro foi sua alegada resistência direitista contra o comunismo. Esse talvez tenha sido o vórtice que atraiu figuras ditas intelectuais e tenha conjurado a chamada ala “ideológica” que o cerca. Mas, de fato, o comunismo hoje é uma palavra (como todas que envolvem tal ideário) intencionalmente despida de significado semântico e político. O termo foi diluído no “culturismo”, na guerra cultural – que muitos ignorantes superficiais negam, mas que existe, e está a todo vapor¹. Porém, se depender dos altos coturnos – o que pode ser chocante para alguns eleitores de Bolsonaro – , o brasileiro é PCC desde criancinha.
Alguns dos generais próximos ao Presidente são pelo menos tacitamente globalistas. O mais descarado de todos, sem dúvida, é o Vice-Presidente Hamilton Mourão, que dá mostras de estar tão enamorado da China, a ponto de oferecer o nosso bum-bum verde amarelo como cobaia para a vacina chinesa. Outro, general Ramos, que nas horas vagas é ministro e secretário, é discípulo escrachado de Aldo Rebelo, socialista e comunista até os ossos. Isso sinaliza que nesse mato Bolsonaro está sem cachorro. Recentemente ele disse que as Forças Armadas são guardiãs da democracia, mas seus generais parecem estar mais preocupados com as gordas aposentadorias do que com temas abstratos como democracia, república e moralidade, haja vista que um ano após terem legislado em causa própria (aumentando os próprios salários em 73%), já começam a se sentir desconfortáveis com as, digamos, “mitagens” do atual Chefe, que estão desgastando a imagem impoluta das Forças Armadas. Alguns analistas políticos enxergam nisso sinais de que um desembarque do governo está próximo².
E a dança ideológica não fica só na cúpula militar. Enquanto as cabeças (os oficiais) da caserna cortejam os próceres do lado vermelho do espectro político, o lado vermelho do espectro político assedia os braços da caserna (os praças)! Por ocasião da aprovação do PL 1.645/19 (que culminou da Lei 13.954/19) os políticos autoproclamados de direita, alguns inclusive militares, votaram contra os praças (e a favor dos oficiais), e os políticos do PSOL e do PT (nenhum deles militar) votaram a favor dos praças (isto é, em prol de um tratamento justo, já que o PL favorecia descaradamente os generais em detrimento da tropa). Entre progressistas e conservadores as Armas oscilam…
Talvez o capitão presidente não soubesse o que estava fazendo, franqueando os portões do poder aos militares, naturalmente despreparados para ele. Se contou com algum tipo de blindagem, provou que perdeu o trem da História, já que os golpes e guerras de hoje não nascem nem morrem necessariamente pelas mãos dos soldados. Se pensou em construir uma muralha de conservadorismo em torno de si, já deve ter notado que os seus antigos colegas pendem mais para o lado vermelho da força. Talvez sua recente inclinação aos políticos do “centrão” seja indício de ter percebido que está não só política, mas ideologicamente isolado. Agora lhe sobra a companhia dos velhos inimigos de sempre, os quais sempre desprezou. Resta especular como vai comprar-lhes as amizades…
JB Reis – Publicado no Portal Militar
¹https://www.youtube.com/watch?v=KqWrD5aXJv0&ab_channel=EpochTimesemPortugu%C3%AAs
²https://noticias.uol.com.br/colunas/chico-alves/2020/10/31/parceria-dos-generais-com-governo-bolsonaro-esta-por-um-fio.htm