No domingo de páscoa milhares de militares amanheceram sobressaltados por conta de postagens em redes sociais sobre uma suposta ordem de Bolsonaro para modificar a lei 13.954 de 2019. Pelo impacto nas redes sociais estimamos que a coisa deve ter sido lida por pelo menos umas 10 mil pessoas.
Era uma notícia Fake? Não exatamente. Pelo que se viu foi uma abstração confessa da realidade com base naquilo que ocorreria caso o presidente da república recebesse para uma reunião pelo menos dois militares que – temos que admitir – demonstraram características raras e necessárias para um evento desse tipo, que são: conhecimento sobre o assunto e coragem suficiente para dizer o que precisa ser dito.
Da mesma forma que Bolsonaro possui seguranças armados e com blindagens balísticas dobráveis em forma de maletas, que impedem tiros até de projeteis calibre 7.62, há medidas para impedir que Informações sobre a insatisfação da tropa na reserva cheguem até o presidente, uma verdadeira barreira. Quem cuida das redes sociais e do acesso do presidente à informações via de regra são oficiais das Forças Armadas, que já foram orientados para que o presidente “não seja incomodado com esse assunto”.
A postagem no misterioso site a Pós Verdade militar talvez, quem sabe, tenha sido uma tentativa de furar essa blindagem, pois trouxe em seu corpo de texto falas que não podem ser taxadas de fantasiosas, muito pelo contrario, são … ou eram, extremamente coerentes, citando inclusive uma portaria usada pelo Exército Brasileiro para “driblar” a lei 13.954 de 2019 e conceder um reajuste de salário para os oficiais médicos que já fizeram sua residência médica, que corresponde à especialização no mundo civil e que na força terrestre, por meio de uma portaria, passa a valer como aperfeiçoamento, mas só pra fins de recebimento de adicional de habilitação.
Aliás, pós verdade é um termo utilizado por filósofos e sociólogos para se referir a notícias com viés emocional que podem não corresponder a realidade, mas que refletem exatamente àquilo que os leitores desejam ouvir. No caso em tela não se trata – portanto – de uma fake news porque o autor, ou autores, deixaram bem claro que a nota teria “a intenção de mostrar o que poderia ocorrer se o presidente pelo menos ouvisse graduados que entendem sobre o assunto…”
Abaixo algumas fotografias do site em questão, que não está mais na rede, em destaque mais abaixo a transcrição de trecho com as “falas” dos suboficiais da FAB e MB.
A fala do suboficial Silas, da FAB, foi contundente e de fato aparentemente foi o que convenceu Jair Bolsonaro.
“Presidente, eu sou o top da meritocracia do meu tempo, antes de ir para a reserva em 2017 eu fiz todos os cursos possíveis, fui auxiliar de adido, atuei nas buscas dos desaparecidos do voo 1907, fui condecorado por bravura e terminei minha carreira como instrutor na Escola de Especialistas da Aeronáutica. Mas agora recebo quase 2 mil reais a menos que um suboficial que vai pra casa esse mês, muito mais moderno do que eu… Que meritocracia torta é essa presidente? Essa nova lei não trata de meritocracia já que eu e milhares de amigos meus, muitos deles apoiadores antigos do senhor, recebemos menos que um suboficial que vai pra casa esse ano com um currículo de “mérito” bem menor do que o que eu possuo. E esse problema se estende a outras graduações. A questão foi apenas economizar a custa de quem já foi pra casa e não tem como se defender… ”
Confrontado no mesmo momento pelo Presidente da República, o comandante da Aeronáutica acabou assentindo com a cabeça.
Outro suboficial – Elias Marcomero – da Marinha, fez colocações enfáticas e emocionadas e explicou como o comando do Exército reajustou o adicional dos médicos por meio de portarias, sem passar pelo Congresso Nacional
“Desde que era cabo eu apoio o senhor e foi com o capitão Bolsonaro que aprendemos que devemos nos valorizar, lutar por condições dignas para a nossa família. O senhor sabe o que é ser deixado de lado, o que é ser estigmatizado pela cúpula. Vi muitas vezes as caras feias de oficiais generais quando ouviam o seu nome. Com todo o respeito que tenho pelo almirante aqui presente, peço que não deixe-se levar pelas colocações do comando da força sem dar atenção ao que hoje milhares de militares na reserva estão sofrendo. Se o senhor ver o vídeo do comandante da Marinha verá que ele admite que deixaram gente de fora. Alegam que o projeto é meritocrático, então que não se jogue no lixo a meritocracia da reserva, que tanto arriscou a vida, deu a sua juventude e o seu sangue para as Forças Armadas.… Segundo diz a Revista Militar e portal da CGU para os médicos especialistas o Exército recentemente, por meio de uma PORTARIA, fez com que, só no quesito pagamento de adicional, o curso deles, que é de ESPECIALIZAÇÃO, passasse a valer como um curso de APERFEIÇOAMENTO. Está aí então a solução presidente, o próprio comando pode estabelecer tempos, se terá retroação etc. Basta boa vontade. Não é possível crer que tantos suboficiais e subtenentes são desonestos e estão criando caso sem razão. Somos conservadores, somos patriotas, mas temos a responsabilidade de zelar por nossas famílias.”