Independentemente da religião de cada um, o fim de ano é uma tradicional época de síntese e de assimilação do que se passou, dentro e fora de nós. Tradição milenar, entre cristãos e não cristãos, o tempo do Natal é propício à reflexão, ao balanço de erros e acertos – como um exame de consciência anual. O Natal que se aproxima, assim como o ano que se encerra, serão certamente especiais para os veteranos das Forças Armadas Brasileiras.
Em 2019, as águas tranquilas que banham o Veteranistão foram vergastadas por uma Lei que se mostrou não só um ataque ao “status quo” de cada veterano, mas também uma afronta aos pilares das Forças Armadas, a hierarquia e a disciplina. Ao promulgar em 16 de dezembro a Lei de reestruturação, o Governo jogou na lata do lixo preceitos básicos da vida militar. Tendo criado categorias dentro de categorias, inventou o impensável, ao atacar o instituto secular da paridade. Sob pretextos inverossímeis, e justificando-se em termos vagos como “meritocracia”, “dedicação exclusiva” e uma penca falaciosa de termos emprestados de alguma agenda neoliberal ianque, a Lei 13.954 achincalhou a hierarquia, já que inaugurou a partir daquele momento a “possibilidade impossível” de que um militar mais moderno recebesse salário maior do que um mais antigo. Uma total e aviltante inversão de valores! A Família Militar, até então, império do rigor e da ordem, foi violentada pelo seu próprio Comandante Supremo, num deboche descarado e instrumentalizado por essa Lei que tripudiou sobre o moral de centenas de milhares de veteranos que nunca se orgulharam de seus soldos, mas que nunca, até então, haviam sentido vergonha de fazer parte de sua respectiva Força Armada.
Mas o que ganhamos com esse nefasto estado de coisas, causado por quem bradou aos quatro ventos que iria nos “valorizar”, porque éramos, o que, mesmo!? Ah, sim, os “guardiões da democracia”… Sim, porque estamos financeiramente à beira da ruína, perdendo dinheiro (cálculos modestos dão conta de quase trinta mil no último ano, desviados da conta de cada praça para os bolsos dos generais). Estamos psicologicamente enlutados, pois fomos presenteados com uma traição grotesca e surpreendente até para os mais pessimistas. Votamos por trinta anos em quem, entre gracejos, aniquilou-nos com uma simples canetada. Estamos moralmente devastados, porque das nossas gloriosas Forças Armadas, apenas se ouve o silêncio da omissão, a aquiescência dos cúmplices, o polegar invertido de um César corrompido!
Mas, afinal de contas, se todo movimento da Energia universal (ou Deus, como chamam os teístas) é dinamicamente prenhe de equilíbrio e sabedoria, urge reconhecermos que com tudo isso (que perdemos) ganhamos a experiência da desilusão. Fomos covardemente aviltados, mas fomos desiludidos. E a desilusão, caro leitor, não é para os fracos, mas para os fortes. Desiludimo-nos dos líderes, que nos mostraram sua verdadeira face tenebrosa. Desiludimo-nos de colegas que cerravam fileiras conosco, e que se mostraram fracos e vendidos aos desmandos de covardes poderosos. Desiludimo-nos do orgulho sectário de pertecer às instituições que nos deram as costas. Desiludimo-nos dos conceitos políticos ingênuos de “direita” e “esquerda”. Desiludimo-nos em pouquíssimo tempo de achar que com nosso voto democrático tínhamos extirpado um mal, apenas para eleger outro.
O ano que virá certamente encontrar-nos-á mais resolutos, porque desiludidos; mais firmes, porque menos escorados em promessas ocas. O ano que virá deverá ser como plataforma de lançamento, o necessário laboratório de todos nós, veteranos. A experiência está apenas começando. Convidados são os que buscam não somente reparação material e financeira, mas também, e principalmente, reparação moral. Porque é isto que sempre nos moveu, mais do que o dinheiro, o moral, a honra. Que 2021 nos encontre de cabeça erguida e de coração tranquilo. A verdade sempre vence. O Veteranistão está apenas começando…
JBReis / linktr.ee/veteranistao
Direto do Veteranistão / Publicado no Portal Militar