O deputado (ex-major) Vitor Hugo apresentou ao governo federal uma indicação parlamentar considerada pela maior parte dos militares que a leram como “ridícula e infantilizada”. A “proposta” do deputado se parece – na ótica deste que vos escreve e de muitos graduados das Forças Armadas que participam de grupos nas redes sociais – mais com uma atrapalhada tentativa de se livrar de um enxame de críticas persistentes nas redes sociais do que de fato com uma proposta de projeto de lei.
Entre os vários itens propostos pelo deputado Vitor Hugo está a convocação de militares na reserva remunerada para a realização de cursos de aperfeiçoamento e altos estudos. Nunca na história se ouviu falar de reintegrar militares já na reserva para realizar cursos e o que é pior, somente para que isso possa lhes garantir um aumento de salário!
Atualmente muitos militares da ativa estão lutando para entrar nas listas de chamada para cursos, que ficaram muito mais rigorosas.
É quase impossível crer que o parlamentar acredita na sua própria proposta.
Será que foi mesmo militar? Alguns perguntaram!
Crendo que fosse possível que isso um dia pudesse ocorrer, algo quase como nascer pelos em ovos ou jogar futebol com um paralelepípedo, será que o parlamentar não imaginou que a imprensa cairia de pau em cima do governo apontando o absurdo da coisa?
Aliás, a própria indicação já foi mencionada pela mídia como proposta de criar mais “penduricalhos”.
Durante a tramitação do projeto de lei 1645 de 2019 o parlamentar, ainda chamado de “major” Vitor Hugo na época, então líder do governo na Câmara dos Deputados, junto com Vinícius de Carvalho, relator do projeto, foi um dos grandes adversários dos graduados que tentavam a todo custo modificar o projeto de lei para que militares na reserva e pensionistas não saíssem prejudicados.
Agora, nove meses depois da sanção, ás vésperas de uma eleição municipal onde deve manifestar seu apoio a algum candidato e talvez, pelo que dizem, diante de uma possível nomeação para um ministério, o parlamentar se transforma no maior protetor dos fracos e desamparados graduados e tenta fazer com que o governo endosse suas propostas de correção da lei já sancionada e em plena execução.
É de fato compreensível que o parlamentar atuasse como soldado do governo. Mas, é impossível que não reste mágoa da parte dos derrotados. Afinal, fizeram de tudo para explicar a situação.
Pura armação
Ninguém é mais ingênuo! Todo mundo percebe que todos os dias há centenas de reclamações nas redes sociais mencionando a atuação de Vitor Hugo contra militares de baixa patente e muitos já taxam a reunião ocorrida na Secretaria de Governo nessa terça-feira, 15 de setembro de 2020, como pura armação, uma reunião de mentirinha. Se da parte do deputado há interesse de consertar os erros, não discutindo aqui seus motivos, da parte do governo não se percebe interesse em colocar as coisas para andar.
O único graduado que participou da reunião saiu de lá com a impressão de que a coisa foi pura armação, algo do tipo “me engana que eu gosto” e que nada vai ser resolvido.
Alguns especulam se Vitor Hugo não estaria tentando também posar de herói para Bolsonaro. Quem sabe acreditou que conseguiria impedir uma manifestação de militares já marcada para outubro em Brasília. De fato, se os graduados fossem na sua onda e cancelassem a tal manifestação é bem provável que um ministério caísse no seu colo, talvez um novo ministério, o da enrolação. Ou – quem sabe – talvez até a Secretaria de Governo, já que o general Ramos anda muito incomodado com o que a imprensa anda falando a seu respeito.
Aliás, nessas questões militares o governo foge desesperado da discussão com quem entende. Deputados que defenderam o PL 1645 / Lei 13.954 aparentemente têm medo de conversar com a imprensa especializada em questões militares, talvez não acreditem na própria capacidade de argumentação.
Manifestação em Brasília, quase um orgasmo midiático
Se a grande imprensa se deleitou com 30 militares gritando Bolsonaro traidor na semana passada no Rio de janeiro, ficamos a imaginar o que vai sair nos jornais depois se um exército de pensionistas e militares da reserva desfilarem pela Esplanada dos Ministérios gritando palavras de ordem.
Não quero nem imaginar se eles – a exemplo do que o próprio presidente e seus ministros militares fazem em algumas cerimônias pelo Brasil afora – resolverem marchar ao som ritmado de um monte de panelas!
Mas, voltando a tal reunião, parece que a emenda foi pior que o soneto, pelo que percebe-se nas redes sociais, ela não surtiu o efeito desejado.
Em resumo, como disse um militar nas redes sociais: “Se queria dar aumento bastava criar um percentual igual sobre os soldos de todo mundo, general iria ganhar proporcionalmente mais que o soldado e ninguém ia reclamar.”
Precisava todo esse teatro?
Esse governo, pelo menos no que diz respeito aos “ministros militares”, vai entrar para a história como sinônimo de injustiça e inabilidade no trato com os subalternos.
Texto de colaborador – Portal Militar – Robson Augusto