Imagine o leitor que exista um país distante, longe da civilização, uma republiqueta de estado ineficiente e hiperinflado, tomado por neocomunistas egressos das ciências humanas, em meio a infindáveis bananais verde-amarelos. Imagine que esse projeto de país tem um exército (entendido aqui como o conjunto de suas mal gerenciadas forças armadas, as que andam, as que nadam e as que voam). Exército esse composto dos mais engalanados, amedalhados e mascarados generais pseudoisentões, que nunca lutaram uma batalha de verdade, mas que se gabam de serem autênticos guerreiros de selva.
Nesse país tropicaliente há também uma suprema corte de supremíssimos ministros que só se aposentam à beira da morte, por ter horror ao teto constitucional de 30 mil (na moeda local) – preferem continuar, apoiados na bengala, ganhando 39 mil – e pelo fato de a tal corte ter as melhores e mais baratas lagostas do mundo.
Imagine agora o caro leitor que um dos super ministros, num delírio de tuiteiro, digno de um Felipe Feto, resolve atacar o pundonor do exército aborígene, tascando-lhe a aviltante pecha de “genocida”, justamente numa época em que milhares de nacionais estão morrendo numa guerra biológica deflagrada por um país de ditadura avermelhada lá do outro lado do mundo.
Escândalo! Afronta!! Um ataque ao estado democrático de direitos e esquerdos. Mas… antes de sentar a pua, devemos ser justos com o exército desse país de mentirinha! A secular instituição que indiscutivelmente colaborou na formação do povo autóctone realmente não merecia tal ofensa.
Porém, se focalizarmos melhor a lente, podemos ver que o suscetível exército apesar de, a rigor, não ter planejado um morticínio sistemático de nenhuma etnia específica, não é uma tropa de santos…
Por exemplo, sob uma ótica desapaixonada, vemos que esse mesmo exército, que se arrepiou pela ofensa federal, recentemente modificou a legislação de seu pessoal, segundo a instituição, em benefício de todos. Mas, vimos que num primeiro momento generais da água, do ar e da terra iriam receber vitaliciamente 10% de seu gordo soldo. Isso foi para todos? Nãão! Parece que nesse exército ofendidinho e politicamente incorreto, só os generais são militares!
Mas não pára por aí! Os burrocratas criaram um tal adicional de disponibilidade que, rasgando a constituição federal, jogou no lixo o preceito jurídico do “direito adquirido” ao erradicar um outro adicional por tempo de serviço e prejudicar os militares que eram mais antigos em favor dos mais novos. Ou seja, afrontou um dos pilares de qualquer exército, a hierarquia, que vale (ou deveria valer) para todos, sejam ativos ou inativos.
O assombrado leitor acha pouco? Pois o buraco é mais embaixo!
Sabe aqueles velhinhos que são vistos de vez em quando nos hospitais militares, de bengala, ou sustentados por parentes!? Pois é, alguns deles provavelmente num passado não muito distante, combateram guerrilheiros que almejavam subverter a ordem nacional. Pela lei da época em que se aposentaram, os bravos veteranos conquistaram o direito do “posto acima”. Um reconhecimento e um lenitivo por décadas de aporrinhação, que só quem é milico sabe o que significa. Eis que a Força ingrata, por meio de portaria interna (um documento tão competente quanto um vale refeição vencido), cortou o direito dos veteranos justamente na hora em que eles mais precisavam, na velhice.
Ainda não acabou! No mês de julho, exatamente quando a secular paridade entre ativos e inativos foi assassinada pelo governo… foi criado o Dia do Veterano!!
Pode não ser genocida, mas é maquiavélico e debochado…
Texto de Colaborador João B. R. Moreira – Militar da FAB