Generais no cabresto! Depois de aumento diferenciado e salário fura teto, estrelados evitam desagradar o chefe
Nesses últimos dias vivemos outro momento interessante. O comandante do EB publicou nota sobre a COVID que – dizem – desagradou o presidente. Pelo que vários sites e jornais publicaram, nada confirmado pela Defesa, o Exército deve divulgar nota recuando, com o objetivo de tentar recuperar para o governo pelo menos um pouco do capital político perdido em mais um capítulo dessa novela de amor, ódio e traição protagonizada pelo presidente e pela cúpula das instituições armadas.
Quem conhece o general Paulo Sérgio, que comanda o EB, não acredita que a coisa foi publicada inocentemente, um general de quatro estrelas tem como regra que cada uma de suas “jogadas’ no tabuleiro político-militar sejam bem planejados e suas possíveis consequências são milimetricamente previstas. Portanto, o incidente mais parece um sinal para a tropa de que há afastamento entre a cúpula e o governo do que um pequeno deslize. Pode até haver recuo, mas o desgaste permanece.
Talvez Paulo Sérgio seja exceção nessa gigante patota de estrelados que orbita dia e noite ao redor de Jair Bolsonaro. O que tem sido mais comum é ver oficiais generais e superiores rindo a toa das piadinhas sem graça de Bolsonaro, fazendo campanha em suas redes sociais e até dando pitacos em discursos anti-vacina.
De joelhos
O caso Pazuello foi apenas um dos momentos em que os oficiais generais se colocaram de joelhos diante das vontades do atual presidente da república nos últimos meses. A mídia consegue captar alguma coisa, mas quem tem maior familiaridade com questões militares nota detalhes quase imperceptíveis. Militares ouvidos insinuam que os estralados na ativa se submetem à humilhação pública porque estariam de olho nos cargos em estatais e no primeiro escalão do próximo governo. Bolsonaro é rancoroso e uma pisada em falso pode significar perder um cargo comissionado, grande perda definitiva de status e – principalmente – de dinheiro.
Quem assistiu a um vídeo do comandante da Marinha, publicado no canal da Escola de Guerra Naval, chega a se assustar com a desfaçatez com que o almirante faz promessas para quando Bolsonaro for reeleito. Tentando aplacar a fúria de praças e pensionistas, prejudicados pela lei de reestruturação das carreiras, o oficial diz que “ninguém ficará pra traz” e que o presidente em breve vai reparar os erros. Quando será esse “em breve”? Obviamente nesse mandato não há mais tempo, o orçamento para 2022 já foi fechado.
Para alguns militares o fator preponderante para esse posicionamento são as oportunidades oferecidas por esse governo à cúpula armada. A portaria que permitiu que oficiais pudessem extrapolar o limite remuneratório constitucional, algo que não existiu nem mesmo nos governos de esquerda, permite que os generais do primeiro escalão do governo recebam – todos – salários que extrapolam a casa dos 50 mil reais mensais e – pasmem – há alguns que recebem mais de 200 mil, como o atual presidente da Petrobrás, general de Exército Silva e Luna.
Mas, há oficiais que não concordam com esse tipo de atitude, estes têm sido expurgados e enviados para o que nas Forças Armadas chamam de pijama. Éticos, discretos, preferem se calar para não escalar mais ainda a quantidade de críticas que todos os dias são atiradas sobre as estruturas armadas.
O general Edson Leal Pujol, ex-comandante do Exército é um exemplo dos que foram afastados, ele caiu porque justamente não se submeteu ao presidente Bolsonaro no que diz respeito ao trato com a pandemia uso das FA para fortalecer politicamente o governo. Ao contrario de “pagar flexão” para o presidente, o oficial deixou claro para a tropa – diversas vezes – que a maior missão dos últimos anos para ao militares brasileiros seria fazer com os que os danos causados pela pandemia fossem os menores possíveis. Para demonstrar que não se afastava de suas convicções o oficial era um dos poucos que não se acovardava e oferecia o cotovelo ou o “soquinho” para cumprimentar Jair Bolsonaro e outros figurões do Palácio do Planalto.
Silêncio para evitar conflitos com o governo!
Nem mesmo no governo Dilma, considerado complicado, os militares se calaram “para evitar conflitos” com o Executivo. Todos sabem dos discursos do general Villas Bôas e de Hamiltom Mourão, ainda na ativa. Quando Mourão, então comandante do Exército no Sul, criticou Dilma Rousseff houve muita pressão para que fosse punido, mas nada ocorreu, o que demonstra claramente que os militares tem agido de forma diferente com Jair Bolsonaro.
Bolsonaro tem o suposto apoio político das Forças Armadas como principal bandeira para “destruir o comunismo” e sem isso certamente perderia fatia importante dos apoiadores mais radicais, aqueles que de fato vão às ruas fazer campanha. Sabe-se que há articulações nos bastidores, um brigadeiro que quer ser presidente e um general pode ser vice de Sérgio Moro. Mas percebe-se que essas chamadas terceiras-vias aparentemente – pelo menos até o momento – não têm muita força política.
Robson Augusto / Portal Militar